Não aceito! Não posso aceitar, e tu também não.
Ainda ontem o meu filho me pediu para fechar os olhos para me surpreender com um trabalho que fez durante o seu dia na escola. Devia ter filmado a sua alegria e orgulho ao partilhar aquele pedacinho do seu dia. Se o tivesse feito poderia explicar aos pedagogos deste país a importância da escola e família funcionarem em equipa. Sou uma sortuda porque ainda só está no pré-escolar.
É bom que usufrua destes momentos, uma vez que parece que esta prática de abertura das escolas às famílias acaba à medida que os miúdos crescem.
Como pode ser possível existirem escolas onde segundo o regulamento interno não é perimtida a entrada dos pais sem autorização? Que pais, educadores, professores podem aceitar isto?
Diz a lei Portuguesa que a escolaridade é obrigatória até aos 18 anos. A maioria das crianças vão à escola (só os alunos em ensino doméstico não farão a sua escolaridade no edifício escola).
Desculpem-me a heresia, mas terei mesmo que fazer esta comparação. A escola não é uma prisão!
Como poderei deixar o meu filho num espaço em que não me permitem entrar todos os dias? Como poderei dizer ao meu filho que aquele é um local seguro? Eu não posso entrar lá regularmente, não conheço as pessoas que lá estão e não lhes poderei desejar um bom dia sem que tenha uma autorização?
Vejo fileiras de pais e avós o portão das escolas todos os dias, sem que as suas crianças lhes possam mostrar desenhos ou projectos que fizeram, não conhecem os locais das brincadeiras nem como os legumes da horta estão a crescer. Há actividades em dias especiais em que famílias se empurram para arranjar um lugar melhor do lado de fora a grade, como se de um zoológico se tratasse.
São fortes as minhas palavras, mas o que sinto é uma forte indignação por se ter normalizado estas práticas.
Não aceito o argumento de que há pais sem educação e que poderão incorrer em crimes contra os professores (poderá acontecer, mas será pontual e aí deverão tomar-se medidas). Contudo, noutros países existem escolas em favelas onde não há violência contra professores. Como farão estas escolas em locais muito mais violentos que o nosso país?
Há recorrentemente queixas do quão afastados muitos pais estão da escola. É preciso abrir a escola à comunidade e às famílias. É urgente haver verdadeiro trabalho de equipa entre os intervenientes da comunidade escolar.
Abram as portas de todas as escolas sem receio.
A escola são as pessoas e as relações que se estabelecem! Que relações se estabelecem com esta distância?
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Autor: Juliana Barroso